quinta-feira, 19 de março de 2015

CREDO DAS MULHERES










CREDO DAS MULHERES




Somos fêmeas humanas, enfrentando um novo milênio.

Somos a maioria da nossa espécie, e apesar disso,
muitas ainda vivem nas sombras...
Somos as invisíveis, as analfabetas, as trabalhadoras, as refugiadas, as pobres.
E declaramos: nunca mais.
Somos as mulheres que tem fome, de arroz, de moradia, de liberdade.

Somos às que tem sede, de água clara, de risos, de conhecimentos, de amor.
Existimos sempre, em todas as sociedades.
Sobrevivemos ao feminicídio.
Fomos rebeldes e deixamos marcas.

Somos, cada uma de nós, valiosas, únicas, necessárias.
Somos  fortes e sagradas, aliviadas por não termos que ser sempre iguais. Somos as filhas do desejo. As mães que dão a luz, as políticas do século XXI.

Trabalhamos durante décadas para assinalar o detalhe de nossa necessidade, nossa ira, nossas esperanças e visões. Rompemos o silêncio e esgotamos nossa paciência. Estamos cansadas de inventariar nossos sofrimentos, de divertirmos ou de sermos simplesmente ignoradas. Estamos fartas de palavras vagas e esperas concretas; famintas de ação, dignidade, alegria. Pretendemos mais que persistir e sobreviver.

Durante milênios tivemos a responsabilidade sem poder... enquanto os homens tiveram poder sem responsabilidades. Àqueles homens que se arriscam a ser nossos irmãos, nós lhes oferecemos equilíbrio, um futuro, uma mão amiga. Mas, com ou sem eles, seguiremos adiante.

Estamos no umbral de um noivo milênio, às nossas costas só ruínas, não há mapas para o futuro; o sabor do medo, em nossas línguas.

Apesar de tudo, saltaremos.

Pão. Um céu límpido. Uma voz de mulher cantando em algum lugar. A ferida cicatrizada, o filho desejado, o prisioneiro libertado, a integridade do corpo honrada, o amante regressando. O trabalho igualitário, justo e valorizado. Nenhuma mão  levantada em outro gesto que não seja a saudação. Interiores seguros - do coração, do lar, da terra. E em toda parte risos, carinho, celebração, danças, satisfação. Um paraíso terreno e humilde, agora.

Vamos torná-lo realidade, nosso mundo: faremos políticas, histórias, paz. E o tornaremos disponível. Faremos a diferença, faremos amor, irreverências, contatos, faremos o milagre.

Somos as mulheres que transformarão o mundo.

(São trechos da declaração surgida no encontro "Estratégia das Mulheres para 1995" em Copenhagem, Beijin e mais Além - Nova York, de 29 de novembro a 2 de dezembro de 1994, organizado por MEDO - Mulheres, Meio Ambiente e Desenvolvimento - Traduzido por Beatriz Cannabrava)