terça-feira, 8 de outubro de 2013

ÓSCULO




ÓSCULO

Ósculo que me acalma
De ternura incontida
Que enleva minh' alma
Que embala minha vida.

Madalena de Jesus

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

SUICÍDIO

 SUICÍDIO

                    Sempre me incomodei com minhas instabilidades; ora simplicidades e ora complexidades do meu ser, do meu pensar, do meu falar, do meu sentir, do meu agir...
                   Buscava em tudo que eu conhecia razões e explicações, tentava submeter a teses e antíteses, enfim...
                   Um dos ponto altos das minhas indagações foi quando deparei-me com a tríade: verdade, existência e identidade contundentemente consagradas nos heterônimos de Fernando Pessoa: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
                  Eu dizia para mim mesma: "Não me entendo! Na escola sou uma, na Igreja sou outra, em casa outra pessoa ... E a pergunta desde muito cedo me acompanhou: _ Afinal quem sou eu?"
                    A medida que o tempo foi passando pude lidar melhor com minhas auto análises e hoje costumo dizer de mim mesma: _ Sou uma mulher bem resolvida. Será?
                    Fico hipnotizada pelo trecho abaixo e o escuto constantemente na voz de Adriana Calcanhoto:

                                     "Eu não sou eu nem sou o outro,
                                    Sou qualquer coisa de intermédio,
                                                    pilar da ponte do tédio
                                            que vai de mim para outro."
                                                                (Sá Carneiro)

                     Esse mesmo com quem deparei-me e conduziu-me a esse rumo de pensamento, ouvindo a mencionada canção e lendo a carta informando que se suicidaria.
                     Passou um filme na minha cabeça, aliás vários...
                     Lembrei de uma vez em que um jovem que eu tanto amava e que tentou envenenar-se, aliás a quem eu muito amo, pois felizmente, seu intuito não logrou êxito. Segundo os médicos foi questão de segundos...
                     Lembro-me correndo pela rua de madrugada e postando-me de braços abertos no meio da avenida a fim de parar um ônibus para pedir ao motorista que parasse o primeiro táxi que avistasse e desse o endereço para socorrer o rapaz agonizante...
                     Assim como lembro que chorei junto à toda a família, por um jovem lindíssimo, que foi encontrado com o corpo pendente... faltavam poucos dias para concluir sua graduação na área de Direito...
                     Vivi ainda outra tragédia semelhante, uma amiga minha, jovem mamãe, envenenara a si e a seu filho. Somente ele foi salvo...
                     Paro.
                     Choro...

 "Meu querido Amigo.
 A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas «cartas de despedida»... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias –ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. [...]"

Mário de Sá-Carneiro, carta para Fernando Pessoa, 31 de Março de 1916.